domingo, 17 de fevereiro de 2013

ES - Lição 8 de 16 a 23 de fevereiro Jesus, provedor e mantenedor – 1º Trim, 2013






Lição 8 de 16 a 23 de fevereiro

Jesus, provedor e mantenedor





Sábado à tarde
Ano Bíblico: Nm 15, 16

VERSO PARA MEMORIZAR: “O meu Deus, segundo a Sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4:19).

Leituras da semana: Hb 1:3; Cl 1:16, 17; Jó 42; Mt 5:45; 6:25-34; 10:28


Deus mantém a criação de maneira tão regular que, muitas vezes o Universo é comparado a uma máquina que Deus deixou para funcionar por si mesma. No entanto, em lugar de uma máquina, a metáfora melhor é que a criação é como um instrumento musical que Deus usa para produzir a desejada “melodia”. Ou seja, Ele está constantemente envolvido na manutenção de tudo que criou.
No Universo, nada existe independentemente do Senhor. Ele criou tudo: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e, sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Não só isso, mas Ele é quem sustenta tudo. Ainda mais surpreendente é saber que Aquele que criou e tudo mantém foi crucificado por nós.


“O apóstolo Paulo, escrevendo pelo Espírito Santo, declarou acerca de Cristo: ‘Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele’ (Cl 1:16, 17, RC). A mão que sustém os mundos no espaço, a mão que conserva em seu ordenado arranjo e incansável atividade todas as coisas através do Universo de Deus, é a que na cruz foi pregada por nós” (Ellen G. White, Educação, p . 132).

Domingo
Ano Bíblico: Nm 17–19

O Mantenedor

1. Qual é a função de Jesus na existência contínua do Universo? Hb 1:3; Cl 1:16, 17

A implicação aqui é que Jesus continua a manter a existência do Universo, pelo Seu poder. O Universo não é independente. Sua existência depende do exercício contínuo da vontade divina. Essa é uma refutação ao deísmo, filosofia segundo a qual Deus criou o mundo para que governasse a si mesmo e, em seguida, o deixou para que evoluísse sem qualquer ação adicional dEle. A Bíblia exclui tal teoria.


Além disso, Deus não está na criação, constantemente criando-a, como nas falsas teorias do panteísmo (Deus e o Universo são a mesma coisa) ou panenteísmo (Deus habita o Universo como se fosse seu próprio corpo). Ele não é dependente do Universo de maneira nenhuma. Ele é separado do Universo; existiu e continua a existir independentemente dele. O Universo depende de Deus, mas o Criador não depende do Universo.

2. Como Paulo descreve nosso relacionamento com Jesus? 1Co 8:6; At 17:28

Dependemos do poder mantenedor de Deus, momento a momento, dia após dia. É por causa do Seu amor que continuamos a existir e somos capazes de agir e formar relacionamentos. De modo especial, isso é verdade para os que se entregaram a Deus e que estão, como Paulo descreve, “em Cristo” (2Co 5:17; Ef 2:10; observe as referências à criação nesses textos). Outra verdade é que mesmo os que rejeitam a salvação dependem do poder sustentador de Deus para sua existência. Daniel apresentou esse ponto de modo muito incisivo ao rei Belsazar, quando disse: “Mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a Ele não glorificaste” (Dn 5:23).

Com tudo isso em mente, como podemos entender a realidade do livre-arbítrio e livre escolha? Por que esses elementos da nossa existência são tão importantes para o conjunto das nossas crenças?

Segunda
Ano Bíblico: Nm 20, 21

Generoso Provedor

Gênesis 1:29, 30 mostra que, quando Deus criou os seres viventes, também providenciou alimento para eles. Ervas, frutas e sementes foram os alimentos escolhidos tanto para os seres humanos quanto para os animais. Nada é dito sobre violência contra outros seres viventes ou competição por recursos. O generoso Provedor criou muita comida para que todos pudessem participar sem necessidade de violência.


Há um contraste muito grande em relação aos modelos comuns para a existência, propostos pela teoria evolucionista, segundo a qual a vida humana, de fato toda vida, existe unicamente através de um violento processo de predação e sobrevivência do mais apto. Os primeiros capítulos de Gênesis não reconhecem nada disso. Ao contrário, eles revelam um mundo que era, literalmente, um paraíso desde o princípio. Por isso, quando o Senhor acabou de criá-lo, a Bíblia registra as seguintes palavras: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia” (Gn 1:31).

3. O que a Bíblia indica sobre o interesse especial de Deus em prover para Adão e Eva? Gn 2:8, 9

Já observamos que Deus havia providenciado alimento para todas as Suas criaturas, incluindo os seres humanos. Então, vemos Deus indo um passo adiante. Ele não somente proveu generosamente alimento por toda a Terra, mas preparou um jardim especial para Adão e Eva, com árvores agradáveis aos olhos e boas para a alimentação (Gn 2:9). O jardim, com sua beleza e variedade de alimentos, foi uma provisão do extraordinário amor e graça de Deus. Um dom da graça porque Adão e Eva não haviam feito nada para merecer, mas o Senhor lhes ofereceu gratuitamente e o preencheu generosamente.


Conforme demonstrado em lição anterior, estamos muito longe da criação original. Nosso mundo está muito danificado. Parece que nada na Terra foi poupado. No entanto, mesmo em meio ao dano, existe uma poderosa evidência do amor de Deus.


“A natureza é um poder, mas o Deus da natureza é um poder ilimitado. Suas obras representam Seu caráter. Os que O julgam a partir de Suas obras, e não a partir das suposições dos grandes homens, verão Sua presença em tudo” (Ellen G. White, The Signs of the Times [Sinais dos Tempos], 13 de março de 1884).

Ao observar a natureza, você consegue perceber “Sua presença em tudo”?

Terça
Ano Bíblico: Nm 22–24


Mal natural


Uma das grandes questões com as quais os crentes em um Deus amoroso têm que lidar é a questão do mal, não apenas a maldade humana, mas o que é chamado “mal natural”. Isto é, quando coisas ruins acontecem na natureza (inundações, furacões, secas, terremotos, etc.), que causam tanta dor e sofrimento, não apenas para os seres humanos, mas também para os animais.
Como devemos entender essas coisas? Afinal, se Deus está no controle da criação, por que essas coisas acontecem? Um dos mais antigos livros da Bíblia é o de Jó, no qual essas questões (e outras) se tornaram dolorosamente reais para ele.

4. Leia Jó 42. O que esse capítulo nos responde? Que perguntas permanecem sem resposta?

Quem já leu o livro de Jó talvez obteve mais perguntas do que respostas. O livro revela verdades importantes sobre o grande conflito (Ap 12:12), que ajudam a formar um pano de fundo decisivo para começarmos a entender a existência do mal. O cenário do grande conflito, no entanto, não explica todos os exemplos do mal. De fato, explicar o mal, em certo sentido, seria justificá-lo, e nunca poderemos fazer isso. O grande conflito pode revelar as grandes questões por trás do mal, mas não diz muita coisa sobre cada exemplo do mal.


Jó não entendia, e nós também não entendemos quando nos deparamos com perdas tão catastróficas. Embora Deus tivesse falado com Jó, Ele não respondeu às perguntas do patriarca, nem explicou a causa do que acontecia. Ele simplesmente lembrou a Jó que havia coisas além do seu conhecimento e que ele precisava confiar em Deus, o que Jó fez. Nossa experiência é muitas vezes semelhante. Podemos não receber uma resposta para nossas perguntas. Mas a história de Jó nos dá uma importante compreensão da natureza do mal, e isso nos mostra que Deus não ignora as lutas que enfrentamos.

Leia novamente a citação de Ellen G. White, na lição de sábado. De que maneira ela nos ajuda a lidar melhor com a questão do mal, sabendo que o próprio Deus também sofreu muito por causa disso?

Quarta
Ano Bíblico: Nm 25–27

Governando uma criação danificada

5. Como Deus age na criação a fim de manter Suas criaturas? O que isso nos diz sobre Seu interesse no mundo criado? Mt 5:45; Sl 65:9, 10

Estamos familiarizados com o Sol e a chuva, e os cientistas dão explicações para os processos envolvidos em cada um deles. No entanto, há mais a respeito da história do que a ciência pode dizer. Nos bastidores, Deus está ativamente suprindo as necessidades de Suas criaturas. Podemos não entender Seus caminhos, mas sabemos que Ele está no controle. Um hábil músico pode tocar um instrumento de maneira a atrair a atenção das pessoas para a música, e não para o músico. Do mesmo modo, Deus organiza a criação de maneira que vemos, muitas vezes, Suas obras e ficamos impressionados com a grandiosidade da criação. Ao mesmo tempo, podemos não reconhecer que Deus está nos bastidores, arranjando os eventos de acordo com Sua vontade e planejando para que todas as coisas finalmente cooperem para o bem daqueles que O amam (Rm 8:28).

6. Que fenômeno semelhante é observado nos textos seguintes? Gn 8:1; Êx 10:13; Nm 11:31

O vento é um fenômeno comum e geralmente entendemos sua causa. Mas nesses textos, o vento ocorre em circunstâncias especiais. Poderíamos chamá-los de “ventos providenciais”. Eles ocorrem em tempos e lugares específicos e realizam propósitos específicos. Embora possam parecer “naturais”, há um Ser invisível realizando os propósitos de Sua vontade, usando recursos do mundo que Ele criou para cumpri-los.


Em 2 Reis 20:9-11, vemos um dos milagres mais inusitados de toda a Bíblia. A relação entre o Sol, a Terra e a duração do dia parece ser uma das características mais estáveis e previsíveis da experiência humana. Imagine a reação da comunidade científica de hoje, se um evento semelhante ocorresse em nossos dias. No entanto, devemos perguntar: “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18:14). O que esse e outros milagres devem nos dizer é que existem muitas coisas sobre a criação, e as ações de Deus em Sua criação, que estão muito além de nosso entendimento. Por isso é tão crucial que cheguemos a um conhecimento pessoal de Deus e conheçamos por nós mesmos a realidade do Seu amor. Dessa forma, aprenderemos a confiar nEle, apesar de tudo o que não entendemos.

Quinta
Ano Bíblico: Nm 28–30


Provedor para uma criação danificada

“Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6:26).

Mesmo depois que Adão e Eva pecaram e já não podiam entrar no jardim, Deus supriu suas necessidades físicas imediatas (Gn 3:21). O pecado trouxe uma novidade: a necessidade de vestuário. Adão e Eva tentaram preparar roupas para si mesmos, mas as roupas de folhas de figueira foram bastante insatisfatórias. Era necessário algo melhor, o que Deus proveu na forma de peles (Consideraremos mais acerca do significado das peles em outra lição). O ponto é que Deus supriu as necessidades deles, embora tivessem caído no pecado. Esse é outro exemplo da graça de Deus provendo para nós, apesar de nossa indignidade.

7. Que mensagem importante Jesus nos apresenta sobre o cuidado de Deus? Como devemos entendê-la, em face das provações e tragédias que afetam de modo tão significativo a vida das pessoas? Mt 6:25-34

Essas são palavras muito confortadoras, e precisamos nos apegar a elas com todo o coração, alma e mente, especialmente em tempos de grande sofrimento, perda e necessidade. Jesus morreu por nós, não pelos lírios ou pássaros. Podemos ter certeza de Seu amor por nós, independentemente das circunstâncias. No entanto, as circunstâncias às vezes podem ser bastante assustadoras. Vemos fome, seca, inundações, epidemias e morte em toda parte, e os cristãos também não estão imunes a essas tragédias.


Deus não promete a Seu povo uma vida de luxo, livre de sofrimento, mas promete suprir nossas necessidades e nos fortalecer, de modo que possamos enfrentar nossos desafios. Só não podemos esquecer a realidade do grande conflito e o fato de que estamos em um mundo caído.

Leia Mateus 10:28. Como esse verso, combinado com os versos de hoje, poderia nos ajudar a lidar melhor com as duras realidades que muitas vezes enfrentamos?

Sexta
Ano Bíblico: Nm 31, 32

Estudo adicional

Leia de Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 8, p. 259-261: “Leis da Natureza”.


“Homens de ciência julgam poder compreender a sabedoria de Deus, aquilo que Ele fez ou pode fazer. Prevalece largamente a ideia de que Ele é restrito pelas Suas próprias leis. Os homens ou negam ou ignoram Sua existência, ou julgam explicar tudo, mesmo a atuação de Seu Espírito sobre o coração humano; e não mais reverenciam Seu nome nem temem Seu poder. Não creem no sobrenatural, não compreendem as leis de Deus, nem Seu poder infinito para executar Sua vontade por meio deles. Conforme é usualmente empregada, a expressão “leis da natureza” compreende o que o homem tem podido descobrir com relação às leis que governam o mundo físico. Mas quão limitado é o seu conhecimento, e quão vasto é o campo em que o Criador pode atuar em harmonia com Suas próprias leis e, todavia inteiramente além da compreensão de seres finitos!” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 114).

Perguntas para reflexão


1. Leia atentamente a citação acima. O que ela está dizendo? Podemos ver os cientistas hoje fazendo exatamente o que foi descrito?


2. A ciência de nossos dias é muito melhor do que costumava ser para explicar, através dos meios naturais, por que certas coisas acontecem ou por que deixam de acontecer. O problema não está com os “meios naturais” ou “leis naturais”, mas com a ideia de que esses meios e leis são tudo o que existe, e de que não há forças sobrenaturais por trás deles. O que há de errado com essa suposição?

Por que, logicamente, isso não faz sentido? (Reflita: De onde surgiram essas leis?) Por que essa ideia é tão contrária aos ensinamentos mais básicos da Bíblia?


3. Como a imagem da criação comparada a um instrumento musical oferece um quadro mais preciso do relacionamento de Deus com a criação do que a imagem da criação como máquina?


4. Que eventos especiais poderíamos considerar apenas “forças da natureza”? Veja, por exemplo, 1 Reis 19:11, 12.

Respostas sugestivas: 1. O Senhor sustenta todas as coisas pelo poder de Sua palavra. Ele é Criador e Mantenedor do Universo. 2. Jesus nos criou e mantém a nossa vida; nEle vivemos, nos movemos e existimos. 3. Deus colocou no jardim árvores belas e boas para alimentar Adão e Eva. Estava ali também a árvore da vida. 4. Deus mostrou Sua onipotência e onisciência. Ao perceber que o Criador estava perto dele e ao notar como era o caráter dEle, Jó se arrependeu do que havia dito e pensado, em razão de sua ignorância. A renovação das bênçãos sobre a família de Jó respondeu uma parte das perguntas de Jó e trouxe confiança em relação às perguntas não respondidas. 5. Deus envia o Sol e a chuva para prover alimento aos habitantes da Terra. 6. Deus utilizou o vento de modo sobrenatural, em favor de Seu povo e para mostrar Seu poder. 7. Se Deus alimenta as aves e veste a erva do campo, devemos confiar na Sua provisão quanto ao alimento, bebida, vestuário, proteção e vida eterna. Devemos confiar no Senhor, mesmo nos momentos de aflição.


ESCOLA SABATINA





Resumo da Lição 8 – Jesus, provedor e mantenedor



O aluno deverá...


Saber: Por que a divina manutenção do mundo é importante para a vida espiritual.


Sentir: A importância do poder sustentador de Deus para a vida espiritual.


Fazer: Procurar depender mais completamente do divino poder mantenedor em nossa vida.


Esboço


I. Saber: Deus mantém o mundo


A. Que tipo de Deus continua a manter o que Ele criou?


B. Como a manutenção contínua de Sua criação revela Seu propósito e vontade?


II. Sentir: Apreciar o divino poder mantenedor


A. O fato de que Deus sustenta Sua criação faz diferença em seu relacionamento com Ele?


B. Compare o planejamento divino com o modelo evolucionista, no qual não há nenhum projeto, mas apenas forças aleatórias atuando. A diferença apresentada por essa comparação aprofunda sua apreciação pelas muitas bênçãos e promessas de Deus, tantas vezes ignoradas?


C. Por outro lado, a diferença entre evolução e criação ajuda a aprofundar a sua compaixão e paciência para com aqueles cuja cosmovisão é moldada pela crença no modelo evolutivo?


III. Fazer: Depender do poder mantenedor de Deus


A. Como você pode adequadamente provar a Palavra de Deus e experimentar seu poder de criação?


B. De que forma você pode permitir que o poder criador e mantenedor de Deus renove todas as áreas da sua vida?


Resumo: A visão bíblica da manutenção contínua da criação destaca que Deus tem um propósito e um plano que Ele procura manter. Isso parece incompatível com um modelo evolucionista, no qual não há planejamento e no qual atuam apenas processos aleatórios e não dirigidos. A doutrina da divina manutenção, portanto, requer uma visão específica de Deus, que parece incompatível com panenteísmo e panteísmo, visões que tendem a tornar Deus indigno de confiança ou igualmente vítima das forças naturais maiores do que Ele mesmo. O divino poder mantenedor é o mesmo que o seu poder criativo, e encontramos este poder de sustentação criativo no trabalho tanto na justificação e santificação.


Ciclo do aprendizado


Motivação


Conceito-chave para o crescimento espiritual: A Bíblia ensina que Deus continuamente sustenta o Universo que Ele criou. A divina obra de manutenção não é compatível com todos os pontos de vista sobre Deus, mas requer perspectivas específicas acerca de quem é Deus.


Só para o professor: Enfatize que o divino poder mantenedor na natureza é o mesmo poder que nos sustenta na vida espiritual.

Um Deus mantenedor é ativo e está interessado em Sua criação. São inúmeras as histórias de pessoas que exerceram muita fé e realizaram grandes coisas com Deus. O missionário George Mueller era famoso por confiar em Deus para suprir as necessidades de sua obra missionária. A Bíblia contém histórias semelhantes, desde a libertação de Israel às numerosas fugas de Davi diante de seus inimigos e às viagens missionárias de Paulo. Nessas histórias, um grupo de pessoas assumiu o risco de radicalmente depender do divino poder criador e mantenedor para realizar proezas que glorificassem a Deus. Infelizmente, temos a tendência de ter tanto medo da presunção ou do emocionalismo que tememos o contato com o sobrenatural.


Em nenhum lugar esse medo é mais tragicamente representado do que na história do rei Acaz, durante o cerco do exército sírio contra Judá. Isaías foi enviado a Acaz com uma promessa: “Acautela-te e aquieta-te; não temas, nem se desanime o teu coração por causa destes dois tocos de tições fumegantes [...] Assim diz o Senhor Deus: Isto não subsistirá, nem tampouco acontecerá” (Is 7:4-7). Acaz parecia duvidar da promessa, por isso “continuou o Senhor a falar com Acaz, dizendo: Pede ao Senhor, teu Deus, um sinal, quer seja embaixo, nas profundezas, ou em cima, nas alturas. Acaz, porém, disse: Não o pedirei, nem tentarei ao Senhor" (vs. 10-12). Deus deseja que confiemos em Suas promessas porque Ele ainda está atuando, sustentando o Universo e tudo o que está nele.


Pergunta de abertura: A maioria de nós odeia depender dos outros. Por que achamos isso tão desagradável, e como essa atitude pode afetar a nossa capacidade de confiar em Deus?


Compreensão


Só para o professor: O fato de que Deus é um ativo mantenedor só é compatível com certos pontos de vista sobre Deus. O poder mantenedor é igual ao poder criador. Assim, o Novo Testamento atribui a Cristo tanto o poder de criar quanto de manter a criação.

Comentário Bíblico


Nosso Deus Mantenedor


(Recapitule com a classe Hebreus 1:2, 3 e Colossenses 1:16, 17.)


Vários pontos importantes das lições anteriores são reforçados pelo conceito da atividade contínua de Deus na manutenção do Universo. Primeiro, uma manutenção ativa parece contrária aos processos não dirigidos da seleção natural e da evolução, que são desprovidos de planejamento e propósito. Os cristãos que tentam unir a criação com a evolução procuram misturar visões contraditórias de como Deus age e Se relaciona com o mundo.


Em segundo lugar, alguns teólogos que estão atualmente tentando misturar a evolução com a teologia cristã promovem uma visão panenteísta de Deus. O panenteísmo afirma que todo o Universo material está em Deus, como parte de Seu ser. O Universo parece ser o corpo de Deus. Essa visão cria um problema interessante, também compartilhado pelo panteísmo (tudo é Deus). Em ambos os pontos de vista, há uma significativa falta de distinção entre criatura e Criador, pois todos participam do Ser divino. Se os processos aleatórios da evolução são parte do Ser divino, então, ou Deus é instável, variável e, possivelmente, caprichoso, causando terremotos, tornados e calamidades, ou Deus Se torna diminuído em poder, assumindo também o papel de vítima, junto com a criação. Esses teólogos evolucionistas tendem a promover a última alternativa, argumentando que Deus Se esconde na natureza para que o mundo possa ser verdadeiramente livre para participar de sua própria criação. Em vez de manter o mundo de acordo com um projeto previamente estabelecido, Deus humildemente Se submete ao mesmo sofrimento e dor que enfrentamos, sendo igualmente uma vítima do mal natural. Devemos encontrar conforto, não em que Deus possa intervir, mas em que a nossa dor e sofrimento estão eternamente gravadas no Ser divino e, portanto, jamais serão esquecidas. Alguns chegam ao ponto de afirmar que Deus está evoluindo com o Universo que é parte dEle.


A doutrina da proveniência (origem) divina está em forte contraste com esses pontos de vista. Para ser um mantenedor, não se pode ser igualmente vítima, juntamente com os necessitados. Um navio que está afundando não traria nenhuma ajuda real aos passageiros do Titanic. As vítimas do Titanic precisavam de outro navio, em condições seguras, para salvá-los. O ajudador deve estar suficientemente capacitado para oferecer uma ajuda concreta aos necessitados e, por isso, não pode ser igualmente uma vítima com eles. Assim, um Deus que mantém e provê deve ser separado e "diferente" do que Ele mantém. Ele também deve ter planos e propósitos que deseja apoiar com a Sua manutenção e ser superior em poder e recursos. Esse Deus entrou em nosso sofrimento pela Encarnação, não como uma indefesa vítima igual a nós, mas em um ato de autossacrifício que oferece uma solução para uma rebelião cósmica, a todos os que se dispuserem a renunciar à sua revolta. Assim, Deus não sofreu por causa do sofrimento, mas para alcançar propósitos específicos. Deus sofreu para criar as condições necessárias para salvar e libertar, e não apenas para ter empatia.


Finalmente, a doutrina da divina manutenção nos leva à correspondente doutrina da nossa total dependência de alguém maior e melhor do que nós mesmos. A confiante dependência de Deus é um elemento vital da justificação pela fé. Dependemos de Deus pela fé, no sentido de que Ele não apenas nos perdoe os pecados, mas também nos dê o poder para andar nos caminhos da justiça. A justificação pela fé depende da divina palavra criadora, da promessa, apesar do que se percebe e sente. Isso capacita o crente a fazer escolhas com base na confiante fé em que Deus cumprirá Sua promessa e o manterá em uma caminhada bem-sucedida de crescimento e desenvolvimento morais. Assim como o mundo depende de seu Criador, não apenas para sua origem, mas também para contínua manutenção, também o crente vive em um estado de dependência de Deus, não somente para a justificação, mas também para implementar um estilo de vida cristão.


Pense nisto: Os escritores do Novo Testamento atribuem a Cristo tanto a criação quanto a manutenção (por exemplo, At 17:28; Cl 1:16, 17; Hb 1:3). Para eles, quem é Cristo?


Aplicação


Só para o professor: Saber que Deus está continuamente mantendo o mundo deve nos lembrar de nossa total dependência de Deus e Suas promessas.

Perguntas para testemunho:


1. Quando você acha fácil depender das promessas de Deus, e por quê? Quando você acha isso difícil, e por quê?


2. O que pode ajudá-lo a estar mais disposto a depender da Palavra de Deus e de Suas promessas?


3. As histórias bíblicas sobre Deus amparando outras pessoas podem nos ajudar a desenvolver confiança em Deus?


4. O testemunho de pessoas em quem você confia pode ajudá-lo a se tornar mais disposto a exercer fé nas promessas de Deus?


Criatividade


Só para o professor: Apocalipse 12:11 diz: "Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram”. Lembre aos seus alunos de que testemunhar sobre a divina atividade mantenedora em sua vida pode incentivar outras pessoas a confiar nesse poder mantenedor e nas Suas promessas.

Atividade para discussão: Você teve experiências que podem incentivar outras pessoas a confiar na Palavra de Deus e em Suas promessas?



COMENTÁRIO




Lição 8 - Jesus, provedor e mantenedor



Michelson Borges, jornalista pela UFSC e mestre em teologia pelo Unasp
Nahor Neves de Souza Jr., geólogo pela Unesp e doutor em engenharia pela USP

Introdução

Ideia central 1: Ao contrário do que pensam os deístas, Deus não “apenas” criou o Universo, Ele o mantém e cuida das necessidades de Seus filhos (Fp 4:19). Jesus é a fonte da energia mantenedora de tudo o que existe (Hb 1:3; Cl 1:16, 17), portanto, Ele não é o Universo, como sugerem os panteístas. O Universo depende dEle e Ele existe antes de toda a criação. Impressiona pensar que o delicado tecido da realidade somente existe pela ação mantenedora de Deus. O que seria de tudo o que existe (os átomos em seu balé constante, as moléculas e suas ligações químicas, as células e seus processos vitais, as incansáveis e microscópicas máquinas moleculares das quais dependemos para viver, etc.) se Deus Se esquecesse de pensar em tudo? Por isso Daniel disse ao ímpio rei Belsazar que até mesmo a vida dele estava nas mãos do Senhor (Dn 5:23). Deus é provedor dos seres criados e isso fica bem claro logo no primeiro capítulo de Gênesis. No verso 29, está descrita a dieta originalmente estabelecida para a manutenção da vida humana. Essa dieta não envolvia a morte de nenhum ser vivo. Também não era necessária a competição por recursos, como acontece hoje na natureza. Havia o suficiente e o ideal para todos os seres criados.

Ideia central 2: Se Deus é o mantenedor da vida e zela por Suas criaturas, como explicar a existência do mal? Há até quem diga que o mal constitui argumento para a inexistência de Deus. Será? O ex-ateu Ravi Zacharias disse que a existência do mal é, para muitos, a maior dificuldade em se aceitar a existência de Deus. Mas, pergunta ele, que é o mal? Por definição, mal é o contrário do bem. É a sensação de que algo deveria ser diferente. E se há o bem, tem que haver uma regra que mostre o que é um e outro. Caso contrário, ninguém se sentiria desconfortável com o mal, pois só existiria ele. Assim, se há uma regra que mostre que o mal e o bem existem, essa regra inteligível demanda uma inteligência pessoal e superior que a estabeleceu. A essa inteligência, Zacharias chama Deus. Mas, se Deus não existe, não há regra. Se não há regra, não há mal nem bem. E se não há mal nem bem, como o mal pode ser argumento para se negar a existência de Deus? Na verdade, a existência do mal afirma duas coisas: (1) Deus existe e (2) Ele criou seres dotados de livre escolha. Como Deus é amor (1Jo 4:8), em Sua infinita sabedoria, Ele usa em benefício dos seres criados o mal que Ele não causou, e um dia vai acabar definitivamente com todo mal que nos faz sofrer.

Para refletir

1. Além de Criador, Deus é mantenedor do Universo. O que essa revelação lhe diz, pessoalmente?


2. Gênesis 1:29 traz a dieta originalmente estabelecida por Deus para os seres humanos. Que dieta era essa e como isso fala de nossa responsabilidade diante da criação?


3. A existência do mal refuta a existência de Deus? Explique.

Ampliação

As atividades habituais (ordinárias) de Deus na natureza

Os primeiros capítulos de Gênesis descrevem um mundo primevo, muito bom, criado com inteligência, sabedoria e propósito, passível então de ser racionalmente investigado a fim de ser compreendido; um mundo em que as leis naturais e seus correspondentes princípios e efeitos poderiam ser descobertos e estudados de modo objetivo. Na verdade, podemos, até hoje, constatar (surpresos) a motivadora e desafiadora interação entre o fantástico livro da natureza e as extraordinárias aptidões intelectuais do ser humano.

Assim, o ser humano criado com atributos únicos e total liberdade, à imagem e à semelhança de Deus (Gn 1:26, 27), foi dotado com tão extraordinária capacidade mental que, mesmo com os milhares de anos de decadência e a atual subutilização das suas potencialidades mentais, se sente encorajado ou motivado a compreender a natureza nas suas mais variadas esferas e escalas. Essa é a razão pela qual frequentemente nos assombramos com as admiráveis descobertas científicas e com as façanhas da tecnologia.

Com essas habilidades extraordinárias, poderia então o ser humano identificar por meio do estudo da natureza as atividades mantenedoras de Deus que “sustenta o Universo com o poder de Sua palavra” (Hb 1:3)? Quando procuramos, por um lado, compreender as maneiras pelas quais Deus mantém o mundo natural e, por outro lado, nos defrontamos com a necessidade de identificar os possíveis mecanismos responsáveis por determinado comportamento da matéria, ou dos seres vivos, sem dúvida (devido às nossas sérias limitações), encontramos algumas dificuldades de percurso nessa dupla atividade investigativa.
Entretanto, não devemos confundir nossa ignorância científica com as ações de um “Deus das lacunas” ou um “Deus-tapa-buracos”. Deus não deve ser invocado apenas para preencher nossas lacunas de informação. Como então podemos entender a atividade sustentadora de Deus no mundo natural? Na tentativa de encontrar uma solução mais prática ou didática para essa questão – sem perder de vista as possíveis implicações teológicas e científicas – nos sentimos estimulados a procurar explicações comparando determinadas situações cotidianas.
 Quando se coloca em questão o caráter funcional e a durabilidade de determinado artefato humano (por exemplo, um relógio – figura 1), estamos nos referindo à precisão e à necessidade de ajustes ou de manutenção desse artefato. No bom projeto de um relógio, são previstas as possibilidades de falha e as prováveis interferências prejudiciais – tanto internas (desgaste das peças) quanto externas (calor e umidade excessivos, choques mecânicos, etc.) – conduzindo, assim, o projetista a um aprimoramento do projeto. Quanto maior for o tempo de funcionamento perfeito, sem manutenção, melhor é o projeto (relógio) e, evidentemente, mais habilidoso é o projetista (relojoeiro).

 Figura 1





Os “relógios” da natureza são infinitamente mais complexos e extraordinários. A fina sintonia identificada nas quatro forças fundamentais da natureza (gravidade, força eletromagnética, força nuclear forte e força nuclear fraca), o ciclo vital da água e o desenvolvimento embrionário (figura 2) manifestam apenas uma pequena parte do incomensurável poder sustentador de Deus, passível de ser compreendido pela precária e limitada mente humana. São ações contínuas, ou permanentes, da Divindade, leis gerais da natureza que, compreendidas por meio de acurada pesquisa científica, nítidas relações de causa e feito, possibilitam extraordinários progressos do legítimo conhecimento científico.   

Figura 2




Na verdade, Deus Se manifesta na natureza de maneira não impositiva (ocultando a expressão visível do Seu poder mantenedor), dando assim liberdade ao ser humano para perscrutar racionalmente a natureza, interpretá-la e compreendê-la sem a obrigação de reconhecê-Lo. Diferentemente do ser humano, Deus não exige nem o registro nem o reconhecimento de Suas extraordinárias patentes. Em uma perspectiva mais teológica e filosófica, que propriamente científica, podemos ainda imaginar que a excepcional ação criadora e mantenedora de Deus na natureza é entendida, pelo menos parcialmente, por meio da compreensão das próprias leis conservativas (estabelecidas pelo mesmo Deus) que regem os inumeráveis e intrincados mecanismos presentes na matéria e, de maneira ainda mais extraordinária, nos seres vivos.

Entretanto, estamos muito aquém da compreensão plena da natureza da matéria e do modus operandi de todos os fatores intervenientes no metabolismo dos seres vivos. Ou seja, temos a consciência de que, mediante a pesquisa científica, resta ainda muitíssimo a conhecer da matéria (partículas elementares) e do próprio corpo humano. Os horizontes ou limites para novas descobertas parecem inatingíveis. Da física de partículas e da admirável e complexa fisiologia humana, simplesmente não sabemos o que poderá ainda ser investigado cientificamente e o que reflete, direta ou indiretamente, a ação mantenedora de Deus.

Com efeito, o que descobrimos de mais elevado, tanto nos intrincados mecanismos da natureza, quanto na revelação bíblica, é que ambos apontam para o mesmo Autor, portanto, se complementam. Assim, sempre haverá horizontes inesgotáveis a ser pesquisados pela inquiridora mente humana. De vez em quando, nos depararemos com desafios estimulantes ao tentarmos nos aprofundar em determinados temas, sejam bíblicos ou científicos. Nessas ocasiões identificaremos a existência de aspectos de infinita complexidade, que parecem nos impedir de alcançá-los ou de chegarmos à sua compreensão plena. Esses aspectos mostram o poder do Deus criador e sustentador da vida.

Conclusões

- “Lembrar que se vai morrer em breve é a mais importante ferramenta que já encontrei para fazer grandes escolhas na vida”, disse Steve Jobs. Deus quer que pensemos mais na vida que virá, pois é eterna, e menos nesta, transitória. A maior escolha que o ser humano pode fazer é aceitar a salvação oferecida pelo Criador.


- C. S. Lewis escreveu: “Não resta dúvida de que o sofrimento, na forma de megafone de Deus, é um instrumento terrível, pois pode levar à rebelião definitiva e sem arrependimento. Contudo, Ele propicia a única oportunidade que o homem mau pode ter para se emendar. Ele retira o véu ou finca a bandeira da verdade na fortaleza da alma rebelde” (O Problema do Sofrimento, p. 108, 109). 



Criança sobreviveu ao abutre, fotografo sucumbiu a dor





Kevin Carter disparou, em 1993, no Sudão, a foto que lhe viria a custar a vida, paradoxalmente, eternizando o fotógrafo sul-africano na galeria dos maiores repórteres fotográficos, com um “frame” icônico, o retrato de uma tragédia que não precisa de uma sílaba sequer. Quando fotografou aquela cena, em Ayod, no Sudão, em 1993, Kevin Carter teria visto, como quase toda a gente, na imagem de um abutre postado atrás de uma criança desnutrida, a metáfora perfeita para a fome que grassava, e matava, no Sudão. Disparou e pouco depois entrou no avião. O New York Times publicou a foto, que em 1994 viria a ganhar o prestigiado prêmio Pulitzer. Kevin Carter não suportou a glória de uma imagem que lhe recordaria a sua própria mortalidade, a sua própria face humana, que naquela tarde de 1993, no Sudão, se deixou dominar pelo brio profissional de capturar a imagem que melhor demonstrasse a tragédia que varria o Sudão. Conseguiu-o.

O Mundo viu, nessa foto, a morte e a fome, a morte pela fome. A opinião pública apressou-se a julgar e a condenar sumariamente a alegada frieza com que teria agido Kevin Carter, considerando que o fotógrafo poderia, e deveria, ter feito alguma coisa para salvar a criança. Kevin sentiu o mesmo e foi essa dor que o levou a pôr termo à própria vida, incapaz de suportar a ideia de não ter ajudado a salvar uma vida. [...]


A história de Carter é a de uma talvez infundada má consciência que o atirou para o consumo compulsivo de drogas, segundo o relato de dois amigos, Greg Marinovich e João Silva. [...] João Silva [...] foi o destinatário da carta deixada por Kevin quando do suicídio. A carta, conta João, “era enraivecida”. Nela, explica, Kevin justificava as drogas como “recurso fácil para a dor que sentia”.

Afinal, sabe-se agora, não era preciso ajudar aquela criança, que estava sendo ajudada pela ONU. Conta o El Mundo que a própria imagem ajuda a contar a história desconhecida, até agora, de Kong Nyong, a criança que escapou ao abutre e fintou a fome e a vida de Kevin Carter. Na mão direita da criança, vê-se uma pulseira de plástico da ajuda alimentar da ONU. Ampliando a foto, pode-se ver inscrita a sigla “T3”. “Usavam-se duas letras: ‘T’ para a malnutrição severa e ‘S’ para os que só necessitavam de alimentação suplementar. O número indica a ordem de chegada ao centro alimentar”, contou Florence Mourin, que coordenava os trabalhos naquele campo improvisado de ajuda alimentar.

Feita a explicação, a história, embora dura, parece mais linear: Kong Nyong sofria de malnutrição severa, foi o terceiro a chegar àquele centro e estava recebendo ajuda. Sobreviveu à fome e evitou o abutre. Segundo o pai, morreu em 2006, jovem adulto, vítima “de febres”, não de fome. Kevin Carter é que já não está aqui para testemunhar essa descoberta dos repórteres do El Mundo. 



Nota: A presença da dor no mundo, sem dúvida, é um dos maiores “problemas filosófico-teológicos” com os quais os teístas têm que lidar. Se Deus é bom e todo-poderoso, argumentam alguns, por que Ele não faz nada a respeito do assunto? Se não faz, é porque não é tão bom ou não é tão poderoso. Desde Epicuro essa ideia, entre outras, vem sendo usada por ateus e incrédulos a fim de descartar a crença. Curiosamente, eu estava lendo o livro O Problema do Sofrimento (Ed. Vida), do ex-ateu C. S. Lewis, quando me deparei com a matéria acima. Veja o que ele escreveu nas páginas 108 a 111:


“Enquanto o homem mau não toma, na forma de sofrimento, consciência do mal inequivocamente presente em sua existência, ele está preso na ilusão. Uma vez despertado pelo sofrimento, ele sabe que, de uma forma ou de outra, está ‘face a face’ com o Universo real. Assim, ou se rebela (com a possibilidade de uma vazão mais evidente e de um arrependimento mais profundo em algum estágio posterior) ou faz alguma tentativa de adaptação, a qual se for buscada, haverá de leva-lo à religião. [...]


“Até mesmo os ateus se revoltam e exprimem [...] sua cólera contra Deus embora (ou porque) Deus, no ponto de vista deles, não exista. [...] Não resta dúvida de que o sofrimento, no forma de megafone de Deus, é um instrumento terrível, pois pode levar à rebelião definitiva e sem arrependimento [ou ao suicídio?]. Ele propicia, contudo, a única oportunidade que o homem mau pode ter para se emendar. Ele retira o véu ou finca a bandeira da verdade na fortaleza da alma rebelde. [...]


“Ora, Deus, que nos criou, sabe o que somos e que nossa felicidade repousa nEle, contudo não a buscaremos nEle enquanto Ele nos deixar qualquer outro recurso em que ela possa ser procurada de maneira plausível. Enquanto o que chamamos ‘nossa vida’ continuar satisfatório, não o entregaremos a Ele. O que, então, Deus pode fazer em nosso interesse, a não ser tornar ‘nossa vida’ menos satisfatória e privar-nos da fonte plausível da falsa felicidade? É justamente aqui, onde a providência de Deus parece a princípio ser mais cruel, que a humildade Divina [de aceitar aqueles que só se voltam para Ele na dor], o curvar-Se do Ser superior, mais merece louvor. [...]


“Os perigos da aparente autossuficiência explicam por que Nosso Senhor considera os vícios dos fracos e dissolutos de maneira tão mais tolerante que os vícios que levam ao êxito mundano. As prostitutas não correm o risco de achar a vida que têm satisfatória a ponto de não poderem se voltar para Deus. Já o orgulhoso, o avarento e o hipócrita estão correndo perigo.”


Muitas vezes, os pais têm que permitir que os filhos passem por situações difíceis a fim de que eles adquiram experiência em formem bom caráter. E não raro esses pais permitem isso com lágrimas nos olhos, acompanhando tudo de perto, ansiosos por abraçar o filho em processo de aprendizado. O Pai celestial também está “desesperadamente” interessado em nosso bem maior; em nossa segurança e felicidade eternas. E Ele sabe que isso somente será possível quando estivermos do outro lado da eternidade. Esse dia está próximo, mas, por enquanto, o processo de aprendizado prossegue. Deus sente nossa dor (e sentiu muito mais na Cruz...); caminha ao nosso lado com lágrimas nos olhos e corre até mesmo o risco de ser mal interpretado. Tudo para nos ajudar a fazer a mais importante das escolhas: aceitar a salvação que Ele oferece de graça. Se as lágrimas de dor hoje dificultam sua visão, aguarde o dia em que todas as perguntas serão respondidas – no colo do Pai.[MB]


Quando os humanos tremem


A revista Veja desta semana (que destacou o maior terremoto ocorrido na história do Japão) traz um artigo de Mario Sabino intitulado “Quando Deus tremeu”. Logo abaixo do título, há o seguinte olho: “Em 1755, o terremoto de Lisboa propiciou aos iluministas a oportunidade de demonstrar a irracionalidade religiosa. Passados dois séculos e meio, já não se acredita tanto que vivemos no melhor dos mundos. Mas é grande a crença de que um dia sobrepujaremos a natureza por meio da ciência e da tecnologia. Trocamos apenas de religião.” No fundo, é um texto depressivo que procura mostrar a “inutilidade” da religião e a pretensão inalcançável da ciência de salvar a espécie humana dos caprichos da natureza – aliás, como sustenta reportagem publicada na Veja da semana passada, nosso Sol vai torrar a Terra daqui a cinco bilhões de anos. O que nos resta, então? Você estranha que, para os naturalistas, a máxima seja mesmo “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”? Que sentido há em se discutir ética, segurança, direitos humanos, fraternidade num mundo regido pelas inexoráveis leis da biologia darwinista? Que sentido há em perder tempo com esse papo humanista, se, no fim das contas, vamos todos desaparecer?

Queremos adiar (ou não pensar) no inevitável, ou apenas garantir uma vida mais confortável enquanto aguardamos o fim?


O que Sabino escreveu ilustra a típica reação traumática que acomete alguns pensadores depois de ver ou viver um evento catastrófico. É o tipo de vazio que implode a alma, causa desconforto e faz com que alguns forçosamente parem para pensar em algo mais do que as preocupações do dia a dia.


Sabino relembra a tragédia que foi o terremoto de Lisboa. O sismo (considerado por alguns estudantes das profecias bíblicas como um dos marcos do começo do tempo do fim) alcançou estimados 9 pontos na escala Richter, gerou tsunamis e levou à morte mais de 50 mil pessoas em Portugal e outras 10 mil na África. A ironia, para muitos, é que o tremor aconteceu justamente no feriado católico do Dia de Todos os Santos, quando as igrejas estavam lotadas de fieis. 

Após o terremoto, o iluminista Voltaire escreveu o romance satírico Cândido, ou o Otimismo, no qual se sobressai o personagem Dr. Pangloss, personificação caricatural do pensamento do filósofo Gottfried Leibniz. Segundo Sabino, “esse alemão [Leibniz] poderia ter passado à história somente como um dos maiores matemáticos de todos os tempos, mas caiu nas presas de Voltaire ao concluir, depois de analisar uma série de relações de causa e efeito, que ‘vivemos no melhor dos universos possíveis criados por um Deus’”


Erraram Leibniz e Voltaire. Leibniz errou porque não entendeu que este não é o melhor dos mundos justamente porque não é o mundo que Deus criou – ou pelo menos não o criou para ser deste jeito. Segundo o livro bíblico de Gênesis (que o diabo insiste em desacreditar comparando-a a uma fábula justamente para atribuir a Deus todo o mal derivado do pecado que ele, Satanás, originou), no mundo que Deus criou para a humanidade eram inexistentes a morte, a dor, a tristeza, a solidão, a incompreensão e todas as coisas ruins que caracterizam este mundo pós-pecado. Deus jamais planejou que terremotos, nevascas, secas, tornados e injustiças ceifassem vidas humanas, assim como não planejou que Adão e Eva fizessem uma escolha errada motivados pelos enganos de um anjo que tomou, ele também, a terrível decisão de se rebelar contra o Criador. 

Por sua vez, Voltaire errou ao bater num espantalho (erro típico de muitos críticos da religião atuais). Assim como fazem os neoateus fundamentalistas Richard Dawkins, Sam Harris, Christopher Hitchens e outros, Voltaire atacou um arremedo de religião baseado em crendices e dogmas humanos. Se Leibniz e Voltaire tivessem entendido corretamente as doutrinas bíblicas da criação, da queda e da redenção, haveriam poupado o mundo de seus comentários infelizes que ainda hoje influenciam a muitos que incorrem no mesmo erro: desconhecem a Bíblia e julgam o cristianismo pelos disparates de algumas correntes religiosas que posam de cristãs.


As promessas do racionalismo iluminista falharam, dando origem à desilusão pós-moderna, ao relativismo e ao desprezo das grandes metanarrativas. A religião, de certa forma, abraçou o relativismo ao defender a teologia liberal que reinterpreta a Bíblia e lhe minimiza o aspecto sobrenatural. As pessoas estão sem rumo, sem esperança, e se dão conta disso de modo muito claro quando as tragédias lhes arrancam de sob os pés o chão que antes lhes parecia tão firme. Sabino resume bem esse mal-estar na conclusão de seu texto que mais parece um desabafo:

“Dois séculos e meio depois do terremoto na Europa, diante de catástrofes como a que nocauteou o Japão, a maioria das pessoas talvez já não acredite que vivemos no melhor dos mundos ou universos. Mas é grande a crença de que um dia poderemos sobrepujar a natureza, por meio da ciência e tecnologia, em que pesem as evidências de que suas adversidades são apenas mitigáveis. Trocou-se o Deus de Leibniz pela Razão iluminista. Voltaire adquiriu algumas feições de Pangloss.”

Mas quer saber de uma coisa? É bom mesmo que a maioria das pessoas não mais acredite que vivemos no melhor dos mundos. Por quê? Porque de fato não vivemos. Na verdade – a triste verdade –, este é o pior dos mundos para se viver. Aqui desgraçadamente o pecado criou raízes, virou metástase num planeta agonizante. Antes que esse câncer seja finalmente extirpado, este mundo jamais será o melhor. Continuará, sim, sendo a maçã podre do Universo.


Infelizmente, muita gente como Sabino entende que aqui não é um bom lugar, mas conclui que “está tudo bem”, porque só temos este lugar para morar e esta vida para viver. Passado o trauma do terremoto; sepultados os mortos; reconstruídas as cidades, tudo volta ao “normal”. Cada um retoma sua vidinha e pronto. E os prazeres da carne e as ilusões da mídia estão aí para anestesiar quem prefere viver na caverna, na Matrix (lembra-se do filme?).


Por meio de Seu profetas, Deus anunciou que o aumento das convulsões deste mundo doente que “suporta angústias até agora” (Rm 8:22) seriam sinais de que a solução definitiva – a volta de Jesus – estaria mais próxima. Note bem: Deus previu, mas não determinou, assim como previu o pecado e tomou providências redentivas antes mesmo de o mal se manifestar no Universo.

Alguns dizem: “Tudo bem. Deus não causa as tragédias. Mas por que Ele tem que se valer delas para chamar a atenção das pessoas? Ele não poderia usar meios mais pacíficos, como um arco-íris ou algo assim?”


Não só poderia como o fez. Que meio seria mais pacífico do que entregar a própria vida e morrer a mais humilhante das mortes para mostrar que ama a todos? Jesus, o “Príncipe da paz”, o “servo sofredor” é a suprema expressão do amor de Deus. Mas o que tem feito a humanidade a esse respeito, haja vista que existem tantas evidências da existência, morte e ressurreição do Deus-homem Jesus Cristo? Transformaram-nO num personagem meramente histórico, num grande profeta, num sábio judeu – como se fosse possível considerar profeta e sábio quem se dissesse Deus... Ou Ele era e é Deus, ou foi o maior impostor da história. Não existe meio-termo. E se Ele foi mesmo Deus, essa é a maior revelação com a qual todo ser humano poderá se deparar. Só que, infelizmente, muitos a ignoram e levam a vida como se nada de especial houvesse acontecido lá no monte Calvário.


Por esse e outros motivos que evidenciam a indiferença humana, Deus Se vale das tragédias como Seu “megafone”. É assim que o ex-ateu C. S. Lewis define a dor em seu livro O Problema do Sofrimento. Veja o que ele escreveu: “Enquanto o homem mau não toma, na forma de sofrimento, consciência do mal inequivocamente presente em sua existência, ele está preso na ilusão. Uma vez despertado pelo sofrimento, ele sabe que, de uma forma ou de outra, está ‘face a face’ com o Universo real. Assim, ou se rebela (com a possibilidade de uma vazão mais evidente e de um arrependimento mais profundo em algum estágio posterior) ou faz alguma tentativa de adaptação, a qual se for buscada, haverá de leva-lo à religião. [...] Não resta dúvida de que o sofrimento, na forma de megafone de Deus, é um instrumento terrível, pois pode levar à rebelião definitiva e sem arrependimento. Ele propicia, contudo, a única oportunidade que o homem mau pode ter para se emendar. Ele retira o véu ou finca a bandeira da verdade na fortaleza da alma rebelde” (p. 108, 109).


Muitas vezes, os pais têm que permitir que os filhos passem por situações difíceis a fim de que eles adquiram experiência e formem bom caráter. E não raro esses pais permitem isso com lágrimas nos olhos, acompanhando tudo de perto, ansiosos por abraçar o filho em processo de aprendizado. O Pai celestial também está “desesperadamente” interessado em nosso bem maior; em nossa segurança e felicidade eternas. E Ele sabe que isso somente será possível quando estivermos do outro lado da eternidade. Esse dia está próximo, mas, por enquanto, o processo de aprendizado prossegue. Deus sente nossa dor (e sentiu muito mais na Cruz...); caminha ao nosso lado com lágrimas nos olhos e corre até mesmo o risco de ser mal interpretado. Tudo para nos ajudar a fazer a mais importante das escolhas: aceitar a salvação que Ele oferece de graça. Se as lágrimas de dor hoje dificultam sua visão, aguarde o dia em que todas as perguntas serão respondidas – no colo do Pai.


(Michelson Borges, jornalista e mestre em teologia)


Nota 1: No livro Apologética Para Questões Difíceis da Vida, o filósofo e teólogo William Lane Craig faz uma boa e sintética exposição, em dois capítulos, do problema da dor e do sofrimento num mundo criado por um Deus de amor. Qualquer hora vou escrever um comentário aqui no blog.[MB]


Nota 2: “Lembrar que se vai morrer em breve é a mais importante ferramenta que já encontrei para fazer grandes escolhas na vida” (Steve Jobs). Deus quer que pensemos mais na vida que virá, pois é eterna, e menos nesta, transitória. A maior escolha que qualquer ser humano pode fazer é aceitar a salvação oferecida pelo Criador.[MB]

- Norman Geisler e Frank Turek, apologistas cristãos, escreveram o interessante livro Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Numa de suas páginas, eles fazem a razoável declaração: “Com o objetivo de assegurar que nossa escolha seja totalmente livre, Ele [Deus] nos colocou num ambiente repleto de provas de Sua existência, mas sem Sua presença direta – uma presença tão poderosa que poderia sobrepujar nossa liberdade e, assim, negar nossa possibilidade de rejeitá-la. Em outras palavras, Deus forneceu provas suficientes nesta vida para convencer qualquer um que esteja disposto a acreditar, mas Ele também deixou alguma ambiguidade, de modo a não compelir aquele que não estiver disposto.”


- Ellen G. White escreveu: “Ao mesmo tempo em que Deus deu prova ampla para a fé, nunca removeu toda desculpa para a descrença. Todos os que buscam ganchos em que pendurar suas dúvidas os encontrarão. E todos os que se recusam a aceitar a Palavra de Deus e lhe obedecer antes que toda objeção tenha sido removida, e não mais haja lugar para a dúvida, jamais virão à luz” (O Grande Conflito, p. 527).


- O autor da lição escreveu: “‘O mesmo sol que derrete a cera endurece o barro.’ Por meio das aflições, certas pessoas se voltam ainda mais para Deus; outras, infelizmente, acentuam sua revolta e rebelião. Se houve um homem com boas razões para se tornar ateu revoltado, este seria o patriarca Jó. Ele enfrentou dores físicas e psicológicas injustificáveis e inexplicáveis; manteve-se, contudo, firme na sua confiança em Deus (Jó 13:15). Escolheu derreter-se como cera diante do sofrimento, saindo de sua deplorável situação com uma compreensão bem mais ampliada do caráter divino. Seus amigos ‘consoladores’ lhe apresentaram muitos argumentos teóricos. Nenhum deles serviu naquela hora. Jó estava mesmo era salvaguardado na experiência pessoal que mantivera com Deus ao longo da vida, sendo sua fé recompensada com a presença do próprio Senhor.”


Um Deus que se cala?


Pense nas coisas mais desastrosas e terríveis que aconteceram no mundo ou na sua vida recentemente. Dizer que o mal existe e que nós sofremos no planeta terra é como chamar um cavalo de cachorrinho. Não é exagero dizer que o tópico que une toda a humanidade e nos caracteriza como moradores deste mundo é o mal e o sofrimento que nos sobrevém. Esse tema tem sido o assunto de milhares de livros, entrevistas, jornais e revistas ao longo de décadas. Porém, qual o problema disso quando estamos falando sobre a defesa da existência de Deus? Qual o problema do mal? O problema é que os teístas (pessoas que acreditam em Deus) creem que Deus é: Bom e ama a todos os seres humanos, portanto, Ele deseja livrar as criaturas que ama do mal e do sofrimento. Onisciente, portanto, Ele sabe como livrar Suas criaturas do mal e do sofrimento. Onipotente, portanto, Ele é capaz de livrar Suas criaturas do mal e do sofrimento.


Com essas informações, entendemos que Deus quer acabar com o sofrimento, Ele sabe como e pode fazer isso. Porém, se o que vemos no mundo com mais abundância é o mal e o sofrimento, logo, Deus não pode existir, ou Ele não é como nós cremos que Ele seja.


Vamos a um exemplo simples disso. Eu tenho um cachorro. Um animal de que gosto muito; tenho um carinho muito grande por ele. Para esse cachorro, sou a doadora do alimento, todas as manhãs e noites. Eu quero que ele viva, sei quando ele está com fome e tenho o poder em minhas mãos para levar o alimento até ele. Porém, vamos dizer que passo uma semana sem dar ração para o meu cachorro. O que isso significa? Ou eu não me importo com ele tanto quanto digo, ou não sei quando meu cachorro está com fome, ou não tenho o poder para lhe dar alimento. Estranho, não? Se primeiramente afirmei que tinha todas essas características, como isso não é verdade agora?


Muitas pessoas, observando esta realidade, desistem do teísmo cristão como uma crença viável e se tornam ateias e naturalistas. Os naturalistas creem que nada existe fora do nosso mundo natural, material e mecânico. Tudo é sem propósito e não há um criador e mantenedor de todas as coisas. A dificuldade de utilizar o problema do mal para transferir sua crença ao naturalismo foi vista no artigo anterior. Vamos relembrar. Com o argumento do mal, a pessoa está afirmando claramente que existe o mal no mundo. Se alguém acredita que existe o mal, também está pressupondo que exista o bem. Mas se diz que existem o bem e o mal, está implicitamente afirmando que existe uma lei moral que diferencia o bem do mal. E se existe uma lei moral, existe um doador da lei moral. Se esse doador da lei moral não existe, a lei moral também não existe. Se a lei moral não existe, não existe uma forma de distinguir o bem do mal. Se não existe uma forma de saber, então o bem e o mal na realidade não existem e o argumento é destruído em si mesmo! Portanto, um argumento que era primariamente para ir contra a existência de Deus, na realidade, é um argumento a favor dEle.


De alguma forma, portanto, precisamos de um meio para mostrar que a existência do mal e do sofrimento no mundo é coerente com a crença em Deus. Vamos fazer isso em seguida.


Primeiramente, você pode concluir de forma lógica que as informações que demos sobre o problema do mal não são contraditórias, de forma alguma. Como? Quando uma informação é contraditória em relação à outra, aquela tem que ser o exato oposto desta. Isso é lógica. Portanto, o cristianismo só seria contraditório se dissesse que: (1) Deus é todo bondoso; (2) Deus é onipotente; (3) Existe mal no mundo; (4) Não existe mal no mundo.


Obviamente não é isso que estamos querendo dizer. Por isso, quando alguém afirma que as três primeiras premissas são contraditórias, isso não é verdade. Como diria o filósofo William Rowe, professor emérito de Filosofia na Purdue University, em Indiana, nos EUA, e crítico do teísmo cristão: “Alguns filósofos sustentam que a existência do mal é logicamente incoerente com a existência do Deus teísta. Ninguém, creio eu, tem obtido sucesso em estabelecer essa extravagante afirmação. De fato, há um razoável argumento para a visão de que a existência do mal é logicamente coerente com a existência do Deus teísta.”[1]


Em segundo lugar, precisamos ter certeza de que as duas premissas de Deus ser todo poderoso e bondoso sejam cuidadosamente definidas. Por isso, se colocarmos a lógica de forma diferente, podemos ver o problema do mal de outra forma:

1. Deus existe, é onipotente, onisciente, onibenevolente e criou o mundo.

2. Deus criou um mundo que agora contém o mal e tem uma boa razão para isso.

3. Portanto, o mundo contém o mal.


Agora sim, temos uma formulação lógica e não contraditória. Só resta saber se a proposição 2 é verdadeira e se tem base para existir na lógica que construímos. Para isso, entra a pergunta “Por que então Deus permite o mal?”. A realidade é que, se cremos em um Deus infinito em sabedoria e onisciente comparado a nós que temos mente finita e extremamente limitada, não precisamos necessariamente saber a resposta. Saber as respostas para perguntas a respeito das intenções e dos planos de Deus é como a história do menino à beira do mar levando e trazendo um baldinho cheio de água até o buraco que havia feito na areia. Um homem que estava passando lhe perguntou: “O que você está tentando fazer, menino?”, e ele respondeu: “Estou trazendo toda a água do mar para dentro deste buraco na areia.” Tentar entender as intenções de Deus não raramente é como tentar colocar o infinito dentro do nosso pequeno “buraco na areia”. Porém, faremos aqui uma pequena tentativa de explicação com as experiências que percebemos no mundo.


Primeiramente, precisamos estabelecer uma diferenciação entre dois tipos de “mal”. A maioria das pessoas concordaria que existe (1) o mal que é causado pela ação ou a falta de ação do ser humano, ou seja, um sofrimento que é consequência das escolhas feitas por outras pessoas, como alguém que morreu por levar um tiro de um bandido, e (2) o mal natural, que não é resultado das escolhas humanas, como terremotos, tornados e doenças. Vamos verificar os argumentos para esses tipos de mal.


Liberdade e livre-arbítrio


Lembro-me de ter tido uma conversa com um ateu amigo meu que havia visitado o território de Ruanda fazia pouco tempo. Relembrando os lugares por onde ele havia passado, contou-me sobre o momento em que o guia contou uma história terrível. O próprio guia havia sido um dos capturados no tempo do genocídio que ocorreu em 1994, em Ruanda, por ser tutsi, o grupo étnico que estava sendo perseguido e morto, na ocasião. Ele descreveu que num momento estava em uma fila de tutsis que seriam executados no local exato em que meu amigo estava pisando, e o homem do lado dele estava orando fervorosamente a Deus para que fosse salvo daquele momento, só para logo em seguida receber um tiro na cabeça. Meu amigo concluiu perguntando-me: “Como você pode acreditar em um Deus que permite que esse tipo de coisa aconteça?”


Deus quer apenas o bem do ser humano, por ser Sua criatura e por amá-lo tanto. Por que, então, Deus não destrói o mal? Por que Ele não impediu que aquelas 500 mil pessoas fossem mortas no genocídio de Ruanda ou em tantas outras situações? 

Se cremos que Deus fez o ser humano à Sua imagem e semelhança, cremos que Deus nos fez com a habilidade de escolher entre o certo e o errado: tomar decisões morais. Isso quer dizer que podemos decidir fazer, falar ou pensar tanto coisas ruins quanto coisas boas, sem que Deus interfira nessas decisões. Para que Deus destruísse o mal, Ele teria que ignorar e retirar completamente a habilidade de suas criaturas de introduzir o mal neste mundo. Assim fazendo, também retiraria a habilidade do ser humano de fazer o bem, e, portanto, sua habilidade de amar. Dessa forma, retirando a habilidade de fazer o mal e o bem, Deus retiraria do mundo a habilidade de amarmos a Ele próprio. Acreditar que Deus nos concede livre-arbítrio e ao mesmo tempo acreditar que Ele deveria intervir sempre que acontece o mal é negar essencialmente nossa liberdade. Deus nos criou como seres livres, e acreditar que essa liberdade deve ser controlada fica muito aquém da coerência.


Como bem disse C. S. Lewis, em seu livro O Problema do Sofrimento: “Tente excluir a possibilidade do sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre-arbítrio envolvem, e descobrirá que excluiu a própria vida.”


Isso nos leva a outro elemento. Muitos então se perguntam: “Por que Deus não criou o ser humano já possuindo a habilidade de escolher apenas o certo?” Perguntar por que Deus não nos criou apenas para escolher o certo é pedir que Deus seja contraditório. Que Ele não siga as regras que Ele próprio criou: a do livre-arbítrio e a da liberdade de Sua criação. Um amor que é compelido ou persuadido não é amor. Portanto, grande parte da maldade que vemos no mundo é causada única e exclusivamente pelas escolhas e decisões do ser humano. Certa vez, G. K. Chesterton, importantíssimo poeta e pensador do século passado, respondeu da seguinte forma a um artigo publicado no jornal The Times que perguntava “O que há de errado no mundo?”: “Querido senhor, em resposta ao seu artigo ‘O que há de errado no mundo?’ – Eu sou. Com carinho, G. K. Chesterton.”[2]


O objetivo de Deus


Precisamos, também, tentar entender um pouco daquilo que parece ser mostrado na Bíblia como o objetivo maior de Deus para o ser humano. Costumamos pensar que, já que Deus nos ama e quer o nosso bem, o objetivo maior seria a felicidade. Frequentemente dizemos: “Deus quer me ver feliz, portanto, vou fazer aquilo que me faz sentir bem!” Essa afirmação é contraditória em relação àquela que vemos na Bíblia. Como?


Realmente, Deus quer que tenhamos felicidade completa, já que Ele é onibenevolente, como a Bíblia diz. Porém, a felicidade que Ele deseja para nós não é passageira e finita como aquela que podemos ter em nossos 70-90 anos de vida aqui neste mundo. A Bíblia é muito explícita em seu direcionamento fundamental para a vida eterna oferecida por meio da salvação. Uma das formas que Deus aparentemente tem de levar o ser humano a reconhecê-Lo e a Sua vontade é por meio do sofrimento, assim levando-o eminentemente à vida eterna, onde, aí sim, ele será completamente feliz. Se crêssemos que Deus deseja nosso conforto e felicidade suprema aqui nesta vida, sim, teríamos problemas com a existência do mal, porém, por esse não ser o caso, a existência do mal não é um problema.

Você já se perguntou por que a crença e a adoração a Deus são mais notáveis nos países em que há maior sofrimento e dor? Muitos ateus utilizam esse fato para dizer que são os países mais pobres e, portanto, menos educados que creem mais em Deus e seguem mais a religião. Porém, a professora de filosofia da Universidade de Saint Louis, Dra. Eleonore Stump, faz uma importante afirmação a respeito dessa informação: é a maldade no mundo que nos leva cada vez mais a admirar e nos sentir atraídos à enorme bondade de Deus. Ao contrário do que se pensa, de que o sofrimento nos distancia de Deus, ele nos leva para mais perto dEle.[3]


Crescimento na adversidade


Pensemos no sofrimento que pode ser visto num hospital. Se pararmos para pensar em todos os procedimentos dolorosos e assustadores que são feitos num ser humano lá, concluiríamos que não seria bom levar aqueles que amamos para aquele lugar. Mas, mesmo assim, os levamos sabendo que haverá alguma coisa para minimizar ou mesmo eliminar o sofrimento. O tratamento no hospital faz com que as pessoas vivam mais tempo e com mais qualidade de vida. Na doutrina cristã é a mesma coisa. O que redime, muitas vezes, nosso sofrimento aqui na Terra é um relacionamento melhor com Deus, uma vida de acordo com a vontade dEle e, consequentemente, uma vida eterna com Ele.


Existem estudos em psicologia clínica que avaliam as consequências da bruta maldade na vida de pacientes. O que se encontrou foi uma regeneração em suas vidas, chamada de “crescimento da adversidade” ou “crescimento pós-traumático”. Muitos relatam que, depois de um terrível acontecimento como câncer de mama e ataques sexuais, paradoxalmente, sua vida se torna muito melhor. Numere pelo menos um aprendizado para sua vida que você tirou do prazer. Consegue pensar em um? Agora pense em um aprendizado que você tirou do sofrimento. Já fez uma lista em sua cabeça, não é? Não desenvolvemos coragem sem medo; não sabemos o que é perseverança sem obstáculos; não sabemos como ser humildes sem ter que servir; e não existiria compaixão se ninguém tivesse dor ou alguma necessidade. As dificuldades e obstáculos em nossa vida são a fonte número um das nossas virtudes e dos nossos aprendizados. Assim, vemos que Deus usa poderosamente o sofrimento para o nosso maior bem.


E o que dizer dos sofrimentos para os quais não vemos resultado ou objetivo imediato? Por que Deus os permite? De forma simplória, o ser humano não tem o conhecimento exaustivo de tudo o que acontece no Universo, e, portanto, não pode determinar quanto mal é necessário para revelar o bem final.


O Deus que entende


Há aqueles que dizem que Deus parece ser um Ser extremamente distante, que, se existe, não Se interessa de qualquer forma pela vida e o sofrimento humano. O que esses se negam a enxergar é que a visão cristã do mundo diz exatamente o contrário. O sofrimento de Jesus mostra que Deus não está desinteressado ou omisso em relação ao nosso sofrimento. Pelo contrário, Ele justamente quis participar das mesmas dores e sofrimentos e quis dar a solução para eles. 

Aqueles que analisarem as diferentes religiões e filosofias perceberão que a cosmovisão cristã é a única que aceita a existência do mal e do sofrimento, e oferece tanto a causa como o propósito desse sofrimento, ao mesmo tempo em que dá a força divina para suportar e passar por ele.


Ainda assim, sempre teremos a tentação de querer entender o mal no mundo, e muitas vezes é fácil falar teoricamente a respeito da dor, mas no momento em que ela bate à nossa porta, se torna muito mais difícil lidar com o problema. Por que perdi meu pai para um câncer? Por que minha família não tem o que comer?
Por que meu filho teve que morrer sem nenhum motivo aparente?


Jó foi um personagem bíblico que ficou perturbado por muitos meses com questionamentos como esses. Perdeu tudo o que tinha; perdeu todos os filhos e perdeu a saúde – tudo em questão de alguns dias. Enquanto ele passou todo o livro tentando entender o porquê, no fim, em vez de Deus responder da forma como ele queria, Deus o confronta com perguntas que ele não sabia responder. Vejamos a incrível conclusão do livro de Jó, no capítulo 42:


“Então Jó respondeu ao Senhor: Agora eu compreendo que o Senhor pode fazer tudo que quiser e que ninguém pode impedir o Senhor de realizar Seus planos. O Senhor perguntou quem foi o ignorante que tentou negar a Sua sabedoria e justiça; fui eu, Senhor. Falei de coisas que eu não entendia, coisas que eu não conhecia, pois eram maravilhosas demais para mim. O Senhor me disse: Escute-me e Eu lhe farei algumas perguntas que você deve responder. Agora eu respondo: Somente agora eu conheço o Senhor de verdade! Antes eu só O conhecia de ouvir falar. Por isso, eu me arrependo de meu orgulho e me cubro de terra e de cinza para mostrar minha tristeza” (Jó 42:1-6, BV).
É como se Deus dissesse a Jó: “Filho, você nem mesmo entende como Eu controlo o mundo físico que você consegue ver, então como vai entender o mundo moral extremamente mais complexo que você não consegue enxergar – um mundo onde o resultado de bilhões de livre-escolhas feitas por seres humanos todos os dias interagem umas com as outras?”
Se fosse perguntado a respeito, ninguém iria querer passar por sofrimento, mas quando vemos o que esse terrível sentimento pode fazer por nós e pelo nosso caráter, reconhecemos que talvez realmente exista um plano maior, que não conseguimos ver nem entender. E, por incrível que pareça, houve uma pessoa que escolheu sofrer. Uma dor muito maior que qualquer situação pela qual tenhamos passado. E essa pessoa é o seu Deus. Quem melhor para entender o que este mundo enfrenta?


Cientistas descobrem sistema “autolimpante” no cerebro
  

Na maior parte do nosso corpo, uma rede de vasos transporta a linfa, um fluido que remove o excesso de plasma, células mortas, detritos e outros resíduos que produzimos. Mas ela não passa pelo cérebro e os cientistas não sabiam exatamente como ele se virava para fazer sua “limpeza”. Até então, eles achavam que esse órgão se livrava dos resíduos por meio de um processo de difusão bem lento através dos tecidos. As substâncias solúveis em um fluido específico do cérebro, chamado líquido cefalorraquidiano, seriam mandadas para fora do sistema nervoso e, depois, lançadas na corrente sanguínea. Mas neurocientistas das Universidades de Rochester, Oslo e Stony Brook acabaram de descobrir que o cérebro também promove uma limpeza por ali de uma segunda maneira (bem mais rápida e eficiente, por sinal), com a ajuda de uma corrente de fluido que passa por dentro dele. E tem mais: esse processo acaba com o acúmulo de toxinas associadas à doença de Alzheimer, Huntington e outras doenças neurodegenerativas.

Liderados pelo neurocientista Maiken Nedergaard, o grupo perfurou o crânio de ratos vivos e injetou no seu cérebro moléculas radioativas. Então, acompanharam seu caminho junto com outros resíduos carregados pelo líquido cefalorraquidiano. Eles observaram que, como um rio, esse fluido carregou as moléculas rapidamente ao longo de canais específicos – formados, olha só que interessante, por células cerebrais não neurais chamadas “glia” (veja na imagem acima). Elas criam um canal de descargapara o líquido cefalorraquidiano e ainda ajudam a regular o seu fluxo.

Depois, o líquido pode cair na corrente sanguínea, retornar para o cérebro ou ir para o sistema linfático. Os pesquisadores batizaram a rede de sistema “glimpático”, em referência tanto às células da glia quanto à sua similaridade funcional com o sistema linfático.

Os pesquisadores também injetaram um tipo de proteína chamado beta-amilóide no cérebro dos camundongos. Ela está presente em todos os cérebros saudáveis, mas, em casos como a doença de Alzheimer, pode se acumular e provocar danos cerebrais. Isso foi feito tanto em ratos com um sistema glimpático normal quanto em outros com um gene deficiente que impedia que as células da glia auxiliassem no fluxo do fluido cerebral. Resultado: nos ratos normais, a proteína foi rapidamente levada embora por esse sistema “autolimpante”. Já nos outros, ela ficou mais tempo.

Agora, acredita-se que problemas nesse sistema autolimpante do cérebro possam ser responsáveis (em parte, pelo menos) pela acumulação excessiva de proteínas prejudiciais observadas em doenças neurodegenerativas. Além disso, o estudo também pode levar a uma compreensão maior do funcionamento desse sistema como um possível removedor das toxinas neurais que inevitavelmente vão se agregar e causar danos cerebrais à medida que envelhecemos.


Nota: Limpeza, canal de descarga, regulagem de fluxo. Esqueça a filosofia evolucionista-naturalista por um minuto. Ao ler conceitos como esses, o que lhe vem à mente? Se eu lhe dissesse que encontrei por aí um computador superavançado, à prova d’água, com impressionante capacidade de armazenamento de informação, e ainda por cima capaz de se autolimpar e (muitas vezes) autorreparar, e lhe dissesse que esse equipamento com tecnologia de ponta é fruto do acaso, você aceitaria isso? Pois é... Além disso, aqui cabe a pergunta de sempre: Se o acúmulo de toxinas no cérebro pode levar a doenças neurodegenerativas, como o cérebro “se virava” até que esse mecanismo de limpeza “evoluísse”? Sem esse sistema funcional desde o início, haveria hoje cérebro evoluído para ler este texto? Quanto mais as pesquisas científicas se aprofundam na complexidade da vida, fica mais difícil para os crentes no acaso sustentar sua visão materialista.[MB]


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